A arquitetura hexagonal deixou de ser apenas um conceito elegante em livros de arquitetura de software e passou a se tornar uma alternativa real para lidar com sistemas legados. Afinal, organizações pressionadas por inovação precisam conciliar estabilidade e modernização em um mesmo ambiente.
Ao contrário da visão comum de que sistemas monolíticos são imutáveis, este padrão oferece uma abordagem incremental que pode revitalizar aplicações que já carregam anos de código. Não se trata de descartar o que existe, mas de abrir portas para evoluir sem riscos excessivos.
Este artigo convida você a explorar essa aplicabilidade em legados de verdade: onde ela se encaixa, quais benefícios entrega e quais trade-offs precisam ser considerados. A provocação é clara: modernizar com inteligência é mais viável do que muitos imaginam. Vamos lá?
A arquitetura hexagonal, proposta por Alistair Cockburn, organiza o software em torno de regras de negócio independentes de detalhes externos. Isso significa estruturar a aplicação com portas (interfaces que definem contratos) e adaptadores (implementações que conectam o núcleo às tecnologias externas).
O objetivo central é o desacoplamento: separar regras de negócio da infraestrutura. Essa separação torna possível escrever testes isolados, livres de dependências externas, elevando a testabilidade. Outro ganho é a independência de frameworks, permitindo que sistemas evoluam sem ficarem reféns de tecnologias específicas.
Comparada a outros padrões de arquitetura de software, a hexagonal dialoga com onion e clean architecture, mas enfatiza de forma mais explícita os pontos de interação com o mundo externo. Enquanto camadas tradicionais ainda permitem dependências cruzadas, Ports and Adapters forçam fronteiras claras entre domínio e infraestrutura.
Vale destacar que o termo “hexagonal” não se refere a uma limitação geométrica, mas a uma metáfora visual criada por Cockburn. O hexágono foi escolhido para representar múltiplas portas de interação com o sistema, sem restringir o número a seis. A forma ajuda a comunicar que a aplicação pode ter várias interfaces externas — sejam bancos, APIs, filas ou UIs — todas conectadas ao núcleo de negócio por meio de adaptadores.
Sistemas monolíticos acumulam dificuldades de manutenção ao longo do tempo. Alterações aparentemente simples exigem alto esforço, já que lógica de negócio, persistência e interface estão acopladas no mesmo bloco de código. Essa rigidez compromete a agilidade.
Outro obstáculo é a dependência de frameworks antigos. Muitos sistemas ainda estão presos a versões sem suporte, limitando a capacidade de evolução. Além do risco de segurança, há escassez de profissionais especializados, o que eleva custos de manutenção.
Por fim, a fragilidade dos testes é crítica. Suites lentas, dependentes de banco real e sem clareza reduzem a confiança. Com isso, regressões se tornam comuns. O acoplamento extremo entre regras de negócio e infraestrutura reforça esse cenário, dificultando integrações modernas.
A adoção em sistemas legados deve ser gradual e estratégica. Em vez de uma reescrita total, a recomendação é refatorar módulos críticos, introduzindo portas e adaptadores em áreas de maior impacto. Esse processo mitiga riscos e possibilita entregas de valor já no curto prazo.
Uma aplicação recorrente é a criação de adapters que expõem o monólito via APIs modernas. Mesmo que internamente ainda haja acoplamento, o sistema pode conversar com aplicações externas, integrações de mercado ou plataformas cloud sem necessidade de refatoração massiva.
Outro cenário prático é o uso da arquitetura hexagonal para criar pontes entre legado e novos módulos. Ao encapsular funcionalidades em portas, torna-se viável substituir componentes ou integrar serviços externos de forma incremental, adotando o padrão do strangler pattern.
O primeiro ganho é o aumento da testabilidade. Separando domínio de infraestrutura, os testes podem focar em regras de negócio, utilizando mocks e stubs para simular dependências externas. Isso gera feedback rápido e confiável para cada mudança.
Outro benefício é a flexibilidade para substituir componentes de infraestrutura. Trocas de banco de dados, filas de mensageria ou serviços de cache tornam-se mais simples, pois estão isoladas em adaptadores. Isso garante evolução tecnológica sem reescrever o núcleo.
Finalmente, a arquitetura hexagonal viabiliza a evolução sem reescrita total. Em vez de iniciar um projeto arriscado de substituição completa, a empresa avança de forma incremental, preservando valor de negócio e reduzindo riscos de falha em grandes implantações.
Implementar hexagonal não é trivial. Existe um overhead inicial na criação e manutenção de portas e adaptadores. Em contextos de prazos curtos, essa disciplina pode parecer onerosa.
Além disso, nem sempre é indicada para sistemas pequenos. Em aplicações de baixa complexidade, o custo de abstração pode superar os benefícios. A simplicidade deve prevalecer nesses casos.
Outro ponto é a curva de aprendizado da equipe. Profissionais acostumados a frameworks opinativos podem resistir ao modelo. É necessária capacitação para alinhar expectativas e evitar implementações equivocadas. Por isso, a avaliação criteriosa de onde iniciar é essencial para equilibrar ganhos e custos.
A primeira recomendação é começar pequeno. Escolher um módulo de baixo risco para validar a abordagem ajuda a gerar confiança, mostrando resultados tangíveis sem comprometer a operação.
Outra boa prática é documentar portas e adaptadores desde o início. A clareza reduz ambiguidades, facilita onboarding e assegura consistência na aplicação do padrão.
Também recomendamos que guidelines internos sejam criados, assim como a revisão periódica de aderência da equipe ao padrão. Isso evita que portas e adaptadores se tornem apenas camadas extras sem valor real.
Por fim, integrar a arquitetura hexagonal com DevSecOps e pipelines automatizados fortalece a confiabilidade. Testes contínuos, CI/CD e monitoramento permitem que o padrão entregue valor de forma sustentável e com segurança.
A arquitetura hexagonal é mais do que um conceito: é aplicável de forma incremental em sistemas monolíticos e legados. Sua força está em permitir desacoplamento, testabilidade e evolução tecnológica sem a necessidade de reescrita total.
Para empresas que enfrentam o dilema entre estabilidade e inovação, esse padrão oferece uma rota equilibrada. Ao mesmo tempo que protege o legado, cria espaço para integrar APIs modernas, migrar para cloud e preparar sistemas para o futuro.
Na DB1, sabemos que arquitetura de software bem feita é o que permite que sistemas complexos durem gerações. Ao dominar padrões como a arquitetura hexagonal, apoiamos empresas em projetos críticos de modernização, entregando confiabilidade e inovação lado a lado. Quer aplicar isso no seu projeto? Fale com nossos especialistas!
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